Um dia desses, uma amiga me perguntou como é ser casada com um chef de cozinha. Segue, então, um dia na rotina da mulher do chef: sexta-feira, 20h, voltando pra casa depois de um dia intenso no trabalho, já no elevador. Chegando perto do 11º andar, sinto um cheiro inebriante de canela, coentro, anis e gengibre. Penso: “vem da minha casa”.
Abro a porta e recebo uma taça de vinho. Bebo um gole e concluo: Syrah. Tem carne no jantar. Segurando a taça em uma mão e ainda a bolsa na outra, entro na cozinha e vejo toda a sorte de brinquedos de cozinheiro espalhada pela bancada (estamos de mudança? Não!) e a panela Wok de risoto maior que meu travesseiro e, obviamente, maior que meu fogão, adornada com um risoto de linguiça toscana perfumadíssimo (para umas 20 pessoas)! Agradeço ao universo, porque era tudo o que eu precisava naquela sexta-feira, e me arrumo para o jantar. É quase uma meditação! Não penso em nada e converso sobre amenidades. O chef respeita meu silêncio e meu cansaço, que vai se esvaindo, aos poucos, com a segunda taça de vinho e o segundo prato de risoto…. recosto na cadeira com o pensamento em unicórnios alados, sentindo meu sangue feito de Syrah. Volto um minuto para a realidade. Seguindo a linha de que depois do prato principal vem a sobremesa, eu pergunto para ele, que continua sentado na minha frente, bebericando seu vinho: “E agora, amor?”. Ele, olha pra mim sorrindo e responde num romantismo ogro doce e fofo: “Agora você lava a louça”. Considerando que eu tinha acabado de comer um dos meus pratos preferidos, feito pelo meu chef preferido, fui lavar louça feliz com meus amigos unicórnios!